
A estupidez já não dá manchete. Quase deixou de ser notícia. Mesmo que seja uma estupidez, assim, presidencial, vai para o meio do jornal. Ganha o mesmo espaço nos principais jornais do país: quatro parágrafos curtos apenas, caindo para o pé da página. As matérias trocam a falta de compostura, de decoro, de respeito à liturgia do cargo, trocam o indecente, o palavrão por uma historinha que fala em "mágoa", em "emoção", que cita a dureza da prisão. E os estúpidos somos nós.
A estupidez latente, cheia de raiva e rancor, selvagem não ganha nem disfarce de gafe, deslize, nada disso. Ninguém questiona. Fica sendo uma reação legítima a uma injustiça... A vítima chora. Quem vai pagar por suas lágrimas recolhidas num guardanapo de papel? As lágrimas e as páginas secundárias dos jornais querem estabelecer que o "injustiçado" pode ser dominado por rancor, raiva, ódio, desejo de vingança, pode ser tomado pelo que nada tem de bom, e continuar sendo o transcendental salvador de todos nós, ou melhor, de quase todos.
Os estúpidos estão na rua, pedindo cabeças, reinventando o fogo. Querem destruir pessoas, destruir um país inteiro
Claro, há estupidez na primeira página dos jornais, mas não tratada dessa forma. Vem embaladinha como coisa boa, interpretada e reinterpretada. O problema é que vai dar errado, quem não é estúpido sabe disso. Quando vai ficar tudo bem? Quando ferrarem tudo? Quando implodirem o teto de gastos? Quando derrubarem a autonomia do Banco Central? Quando acabarem com as metas de inflação e baixarem a taxa de juros na marra? Quando controlarem os preços de produtos e serviços? Quando aumentarem mais e mais os impostos, estatizarem geral? Talvez quando todo mundo for funcionário público...